sábado, 3 de abril de 2010

De quem é a praça? De quem é a rua? De quem é a lua?


Tudo bem que a praça é do poder público, porém é do pobre, é do rico, é do público também.
Na praça é gente que vai e gente que vem. Mas na verdade não é de ninguém.
Na rua todo mundo gira, todo mundo passa. Mas ela não é minha, nem é sua também.
E a Lua? Ela é sua? Não. A Lua é do espaço que a detém.
Algo me incomodou muito quando tentei refletir e não entendi sobre o que vi na praça outro dia. Quarta feira é sempre um dia alegre, dia de sair nas ruas, dia de ir na praça, de ir na feira da lua.
Na quarta feira é dia do pobre mundo dos ricos. Ou será que é dia do rico mundo dos pobres?
Andando pela feira, deparei com um menino muito pobre, mas era tão pobre que não tinha sequer um calçado nos pés. O menino deveria que ter em torno de uns três anos de vida, mal sabia falar. Então em meio a multidão, implorava por uma migalha de pão.
Aquele menino pequeno andava pelo meio do povo, pedindo uma moeda, queria comer.
Será que aquele dia seria um rico dia para um menino pobre? Ou será que os ricos ficariam mais pobres se dessem uma esmola ao menino?
Já não sei se pobre é quem pede, ou se pobre é quem não dá o que comer a quem tem fome.
Pobre e mesquinha é a atitude de quem têm e não dá.
Será que aquele que instala uma barraquinha na praça é rico? Ou será pobre porque ali tem que trabalhar?
Será que quem passeia pela praça é rico porque tem para comprar? Ou será que quem passeia pela praça é tão pobre a ponto de ter que pedir?
Ninguém é tão pobre que não tenha algo a oferecer. E ninguém é tão rico que não precise da ajuda de alguém.
Foi de cortar o coração, quando o menino de pés no chão, no meio da multidão pediu ao rico dono da barraquinha um pedaço de pão, e aquele irmão sem a mínima noção, lhes disse não. E foi de cortar o coração quando o dono da barraquinha disse ao menino para sair dali, porque ali ele não pode ficar.
Quem instala uma barraquinha na praça, debaixo da lua, na rua, que é minha e que e é sua, não tem o direito de dizer que naquele espaço o menino não pode ficar. Esse espaço não é meu, nem seu, não é de ninguém.
De quem é a praça? De quem é rua? De quem é a lua?

“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."(Clarice Lispector)

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